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O monkeypox foi isolado pela primeira vez em macacos, em 1958. Hoje, sabemos que ele infecta também outras espécies animais, em especial, os roedores. Desde sua identificação, esse vírus vem causando surtos esporádicos em humanos.
Sua transmissão se dá, principalmente, por contato da pele com as lesões em pessoas doentes, por gotículas de saliva e por contato com objetos contaminados. A doença leva ao aparecimento de vesículas na pele que evoluem para crostas e contém grande quantidade de vírus. A doença é, normalmente, autocontrolada e de baixa mortalidade.
De acordo com a última atualização de dados do Centro para Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, até o dia 19 de agosto foram reportados 41.358 casos, sendo 99% deles fora dos países onde o vírus é historicamente presente. Até hoje, 12 mortes foram relatadas, mas a relação causal ainda é incerta.
Sintomas de Monkeypox, a Varíola dos MacacosFonte: Getty Images
Mas como entender esse comportamento atual do vírus monkeypox, que deixa de causar surtos numa região e passa a causar doença em um número significativamente maior de pessoas em locais onde antes isso não acontecia? Estaria o vírus em processo de adaptação para infectar o homem com maior eficiência?
Na pandemia, observamos o processo de rápida evolução do SARS-CoV2, com o surgimento de sucessivas variantes, consequência do acúmulo de mutações e maior capacidade de infecção e disseminação.
Diferente do vírus da COVID-19, cujo material genético é o RNA, o vírus monkeypox – da mesma família do vírus da varíola – possui DNA como seu material genético e, por isso, possuem uma frequência de mutação bem menor que o SARS-CoV2.
Nesse surto de monkeypox, os dados de sequenciamento mostraram que o vírus que circula entre nós é uma variante da amostra que circulou na Nigéria em 2017. Num estudo muito relevante, um grupo de pesquisadores de Portugal comparou as sequências de DNA do material genético do vírus que circula hoje com a sequência do DNA dos vírus que circularam entre 2018 e 2019.
Os dados mostraram dois achados importantes. Primeiro, nesse curto período de tempo, o vírus acumulou uma taxa de mutação muito maior que a esperada para um vírus DNA. Segundo, observaram que, dentre as 4 bases nucleotídicas que formam o DNA (A, C, T e G), os vírus atuais possuem uma quantidade mais elevada de As e Ts.
Vírus Monkeypox: possui baixa mortalidade, mas deve ser controladoFonte: Getty Images
Essa transição de CG para AT fortemente a atuação de enzimas humanas indicando que o vírus vem se replicando em células humanas. Por hora, as mutações descritas estão espalhadas no genoma viral e são indicativos de sua circulação por células humanas, mas não a causa de maior infectividade.
Nesse aumento da circulação e multiplicação do vírus em células humanas, as regras da biologia dos vírus serão mantidas, com eventos de mutações no seu DNA que, na grande maioria das vezes, serão irrelevantes à sua capacidade de infecção.
Eventualmente, assim como observamos em todos os vírus, poderemos observar as, hoje “famosas”, variantes de preocupação, quando essas mutações representarem vantagens competitivas e, por consequência, aumento da sua capacidade de infectar células humanas.
Mas, importante, ele continuará sendo um vírus monkeypox e, contra essa eventual maior disseminação, deveremos adotar as medidas cabíveis para o controle. Especialmente vacinas e medidas de comportamento pessoal.
“Esse texto foi inspirado no artigo de Sara Reardon na Revista Scientific American, de julho de 2022”
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