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De um lado, está a ex-empregada doméstica, advogada feminista e ativista pelo meio ambiente e contra o racismo Francia Márquez, que integra a chapa do político de esquerda Gustavo Petro.
De outro, a doutora em educação e ex-vice-reitora da Universidade Minuto de Dios (Minuto de Deus) Marelen Castillo, parte da coligação do empresário Rodolfo Hernández, um empresário e ex-prefeito que se apresenta como “outsider” da política e acabou surpreendendo na reta final do primeiro turno.
Márquez e Castillo vêm de cidades da área do Pacífico colombiano, no departamento de Cauca, reduto histórico de afrocolombianos. Uma área conhecida tanto pelas belezas naturais e pelo turismo quanto pelos desafios dos tempos da guerrilha — entre eles a questão da pobreza e dos “desplazados”, aqueles que se veem sem alternativa a não ser deixar suas casas e territórios diante da criminalidade.
As candidatas têm, contudo, mais diferenças do que semelhanças, já que compõem chapas com ideologias e propostas bastante distintas.
Esta é a primeira vez que a disputa presidencial na Colômbia se dará entre um candidato da esquerda ou centro-esquerda e um candidato que se apresenta como “outsider” do sistema político. Os partidos tradicionais de direita e de centro-direita, que governaram o país por décadas, foram derrotados no primeiro turno, realizado no dia 29/05.
Márquez foi escolhida como vice de Petro após receber ampla votação nas primárias partidárias realizadas pela coligação Pacto Histórico em março passado.
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Com 40 anos, ela é definida como uma “fenômeno eleitoral” por sua capacidade de aglutinar apoiadores, que cresceu após sua participação nos protestos nacionais realizados em 2019 e 2020. Dois anos atrás, ela escrevia em suas redes sociais querer ser presidente do país “para que nossas crianças possam andar sem medo de serem assassinadas”.
Entre suas bandeiras em defesa do meio ambiente, ressaltadas nesta campanha eleitoral, está a oposição ao fracking para a exploração de petróleo e gás, que vai ao encontro da proposta de Petro de desacelerar a exploração petrolífera no país — e que tem gerado críticas do setor empresarial colombiano.
Castillo era, como ela mesma se definiu, uma “perfeita desconhecida” do eleitorado colombiano até pouco tempo. Há apenas três meses, ingressou na chapa do ex-prefeito de Bucaramanga Rodolfo Hernández, que enfrentou dificuldades para nomear uma candidata a vice.
O empresário do ramo da construção, à frente da coligação Liga dos Governantes Anticorrupção, é dono de frases definidas como machistas, entre elas a de que as mulheres deveriam ficar em casa cuidando dos filhos.
Com 53 anos, Castillo é formada no México e nos Estados Unidos e devota da santa católica Virgem de Guadalupe.
Passou a ganhar popularidade na reta final da campanha do segundo turno ao expor seu trabalho ligado à inclusão universitária de jovens de áreas pobres do país e ao defender a criação de oportunidades para as mulheres.
“Eu aceitei a candidatura para poder ajudar tantas mulheres colombianas que não têm oportunidades. E porque acredito que a política e a educação têm o mesmo objetivo de fazer o bem à cidadania”, declarou.
A candidata disse que Hernández tem experiência como “empreendedor e empresário” e que sua participação em um eventual governo se daria principalmente na área da educação. O presidenciável já afirmou que, caso a chapa seja eleita, Castillo ocupará também o Ministério da Educação.
Nos planos da possível futura vice estão aumentar o salário dos professores das escolas públicas e a realização de investimentos nas áreas de esportes e artes.
Em seu currículo, enviado por sua assessoria de imprensa à reportagem, constam quatro diplomas universitários, incluindo doutorado em educação nos Estados Unidos, mestrado em administração de empresas no México, engenharia industrial e biologia e química na Colômbia.
Montagem com fotos dos candidatos a presidente da Colômbia: à esquerda, o esquerdista Gustavo Petro; à direita, o populista de direita Rodolfo Hernández — Foto: Juan Barreto/AFP e Yuri Cortez/AFP
Para a cientista política Luciana Manfredi, da Universidade Icesi, de Cali, as declarações de Castillo atuam como uma espécie de “contenção” às polêmicas afirmações de Hernández.
“Ele a escolheu para ser sua vice após várias tentativas que não deram certo. Ela é uma educadora preparada, mas tem uma trajetória muito diferente da de Francia, [que é] muito mais popular e com mais experiência no âmbito político”, completa
Em entrevistas, Castillo, mãe de dois filhos, contou ter crescido em uma família de classe média e miscigenada, com um pai branco e uma mãe negra, onde raça não era um assunto discutido.
Marquéz, mãe solteira aos 16 anos, teve uma vida de dificuldades financeiras. Ainda na adolescência, aos 15 anos, iniciou o ativismo em defesa do meio ambiente e contra as empresas ilegais de mineração em Cauca, como mostram suas entrevistas daquela época disponíveis.
Anos mais tarde, em 2018, ela recebeu por sua atuação nessa área o prêmio internacional Goldman, definido por especialistas como o “Nobel Verde”.
Márquez diz ter decidido estudar direito por conta de suas preocupações ambientais e por sua dedicação a enfatizar seus antepassados escravizados. Em sua página na internet, define-se como “parte da luta contra o racismo estrutural”.
Em um país “profundamente racista”, como disse o professor de ciências políticas Alejo Vargas Velázquez, da Universidade Nacional da Colômbia, ela passou a ser conhecida e respeitada nacionalmente por sua liderança e defesa também do meio ambiente.
Apesar de pelo menos 10% da população do país ser negra, não se registra esta presença nas altas esferas do poder, como Márquez costuma frisar.
Esta campanha eleitoral, contudo, marcou o recorde de cinco candidatos afrocolombianos à vice-presidência na primeira etapa da disputa eleitoral, o que foi definido pela professora de sociologia e diretora do Centro de Estudos Afrodiaspóricos da Universidade Icesi, Aurora Vergara-Figueroa, como “algo inédito e que ocorre quando há cerca de 170 anos os afrodescendentes estavam em condições de escravidão na Colômbia”.
O analista Jorge Restrepo, da Universidade Javeriana, de Bogotá, observa que as semelhanças entre as duas vices parece limitada ao fato de serem originárias da região do Pacífico colombiano.
“Estamos começando a conhecer a vice de Hernández, enquanto Márquez já é uma política de expressão nacional e que já tinha influência antes mesmo de ser vice de Petro”.
Márquez foi presidente do Comitê Nacional de Paz e Reconciliação e Convivência do Conselho Nacional de Paz, quando apoiou e “impulsou”, como disse, a implementação do acordo de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que depuseram as armas após 50 anos de conflitos.
Durante a campanha eleitoral, como publicou o El Espectador, de Bogotá, ela foi alvo de “fake news” que apontaram supostos vínculos seu com o grupo guerrilheiro ELN. Neste ano, ela entrou com uma ação na Justiça contra um senador que teria sugerido este vínculo, mas o Judiciário entendeu que o processo iniciado não tinha sustentação.
Seu currículo como ativista e personalidade nacional inclui o ano de 2014, quando ela liderou o que ficou conhecido como “a marcha dos turbantes” contra a mineração na comunidade negra e sua terra natal de La Toma, no município de Suárez, em Cauca.
A marcha reuniu dezenas de mulheres afrocolombianas que caminharam mais de 500 quilômetros durante 22 dias até a capital do país para denunciar a exploração ilegal de minerais.
Várias vezes ameaçada de morte por suas denúncias contra a mineração ilegal e a contaminação de rios, como denunciou em diferentes ocasiões, Márquez subiu ao palanque da campanha eleitoral acompanhada por seguranças.
Em um dos comícios, em Bogotá, quando era comemorado o dia da “afrocolombianidade”, seus assessores decidiram tirá-la do palco às pressas quando um laser verde foi apontado contra a candidata.
Para analistas, enquanto o desafio de Castillo é passar a ser mais conhecida entre os colombianos, o de Márquez é contar com apoio dos que não compartilham de seu ativismo em defesa do meio ambiente.
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